MANAUS - Prezados amigos leitores, sou
policial militar há 17 anos e durante todo esse período convivi na linha de frente com pessoas das
mais diversas personalidades e de caráter universal, que variam da linha mais
tênue à mais forte. Esse convívio em boa parte infelizmente se deu com afrontas
de toda natureza, de todas as ordens. Graças a Deus e ao treinamento policial que
tive durante três anos de formação na Academia da Polícia Militar do Estado de
Goiás nunca perdi o controle quando me deparei com essas situações, pois não
passavam de objeto de meu trabalho ainda que fossem da forma mais cruel.
Contudo, fico abismado com a forma vil que muitas pessoas e
particularmente a mídia lidam com tudo que se relacionam à Polícia Militar. Os
problemas pessoais vividos por algumas pessoas durante a ditadura militar no
Brasil (1964 a 1985), parece não ter fim. Entendo
que nada foi fácil nesse período: agressões; torturas; mortes, situações imperdoáveis. Mas até
quando essa revolta será escarrada sobre a Polícia Militar? Infelizmente as
experiências com a ditadura afetam-lhes de tal maneira a cabeça que parece
existir um câncer enraizado, corroendo-lhes o cérebro e tornando-os incapazes
de entender que os anos se passaram, que a vida continua, que muita coisa
mudou, que os policiais militares são outros, que a Polícia Militar não é mais a mesma, que não
é inimiga da sociedade, que é cidadã e zela pelos direitos fundamentais mais do que em outro momento no país. Temos erros, sim, temos. Mas a luta é incessante para evoluirmos e chegarmos a ser realmente referência para o mundo.
Não consigo entender porque tanta
angústia, tanta amargura, tanto ódio contra os Policiais Militares
brasileiros, que hoje já são submetidos a treinamento policial humano para
lidar da melhor forma com a sociedade. Na formação, os Oficiais são treinados inclusive por
professores renomados das universidades públicas. Os praças (Soldado, Cabo, Sargentos e Subtenentes) tiveram todo o programa de ensino remodelado e modernizado, inclusive sob os olhares dos órgão de Direitos Humanos. Mas algo incomoda demais essas pessoas. Até
quando eles vão querer vingança? Quando vão entender que a ditadura já passou e
quem tem que pagar pelos erros foi quem cometeu os erros? E vale enfatizar que
a Justiça brasileira já fez o que deveria para que os verdadeiros culpados pelos crimes cometidos fossem punidos. Se ainda não fizeram a todos, cabe somente a Justiça processar e julgá-los. Nenhum crime ou violência praticado por uma pessoa pode
ser transferida a outra. Cada ato praticado é de responsabilidade daquele que a
praticou.
Muito embora seja induzida a agir com severidade em muitas ocasiões,
pois todos sabem como anda a criminalidade no Brasil e o nível de atuação dos
criminosos, a Polícia Militar aprendeu que o mundo evoluiu, que a vida é outra,
que não cabe mais truculência ou abuso nas ações com a população. Contudo, sabemos que não há
outra solução para conter o avanço da criminalidade senão de forma inteligente e em certos casos com o uso da força. Só tem noção da severidade dos
criminosos quem já foi vítima. Quem já esteve sob a mira de uma arma, quem já
foi roubado, furtado, agredido, torturado, sabe muito bem como o trauma é doloroso, a dor é maior ainda se o resultado é a morte.
O Programa “Encontro com Fátima
Bernardes” da Rede Globo de Televisão, veiculado no dia 17 de novembro, deixou assustados policiais
e familiares e parte da sociedade que não pactua com essa espécie de xenofobia. Mais uma apunhalada, mais uma afronta à Polícia Militar. Na ocasião, os convidados optaram por salvar primeiro o traficante e só depois o Policial Militar. Por que salvar primeiro o traficante se é ele a causa do terror no seio da sociedade, que implanta violência, pratica o mal, destrói famílias e transforma negativamente a
vida de milhões de pessoas?
Quem está envolvido com o mundo do tráfico ou vende ou usa, ou furta, ou rouba, ou mata, ou destrói, ou faz tudo isso ao mesmo tempo. E não há exceção, todos são malfeitores. O Policial Militar de outro modo é força policial, autoridade policial, servidor da sociedade, protetor, educador, psicólogo, conselheiro e tomador de decisões em frações de segundo como nenhum outro profissional, e sem deixar de cumprir sua missão que é proteger a sociedade, mesmo com o risco da própria vida.
Quem está envolvido com o mundo do tráfico ou vende ou usa, ou furta, ou rouba, ou mata, ou destrói, ou faz tudo isso ao mesmo tempo. E não há exceção, todos são malfeitores. O Policial Militar de outro modo é força policial, autoridade policial, servidor da sociedade, protetor, educador, psicólogo, conselheiro e tomador de decisões em frações de segundo como nenhum outro profissional, e sem deixar de cumprir sua missão que é proteger a sociedade, mesmo com o risco da própria vida.
Na prática, a Polícia Militar não
se resume a uma mera instituição que previne o crime por usar veículo
caracterizado, uniforme padronizado, armamento, etc. A Polícia Militar é
instituição de ensino, é instituição de saúde, é órgão de assessoramento, é
instituição de preservação da vida, que não dorme, trabalha dia e noite, faça
chuva faça sol, em qualquer lugar e não exige qualquer tipo de luxo para trabalhar.
Fomos mais além. A missão diária da Polícia Militar avançou e entrou na seara da educação, com as escolas policiais
militares; entrou na saúde, com seus hospitais de campanha, abertos ao público
em geral; criou diversos programas educativos e de orientação para contribuir
com a formação e preparação dos jovens para que não sejam alvo da
criminalidade, etc., tudo para ajudar a sociedade a ser mais justa.
Não temos culpa
do que aconteceu no passado. Mas fico impressionado com os ataques diretos e indiretos da mídia e da mesma sociedade que
exige proteção e que xinga por conveniência de massa. Queremos apenas ser
respeitados; queremos servir a sociedade da melhor forma. Se errarmos, quando
errarmos, que a lei seja aplicada. Mas extirpar por extirpar, denigrir por denegrir, macular por macular, menosprezar,
subestimar e diminuir à insignificância ou a qualquer situação de repugnância,
não vai melhorar a vida de ninguém. Se o nome Polícia Militar é que impõe medo,
se a farda impõe medo, seja lá o que for que impõe medo, digam-nos. Vamos debater e encontrar a forma correta de convívio. Estamos
dispostos a contribuir sobremaneira para o desenvolvimento da sociedade. Mas,
por favor, não venham afrontar continuadamente a paciência, porque nada vai melhorar. Paremos com
a hipocrisia institucional.
Elaborado por Major Castro Alves. Oficial Superior da Polícia Militar do Amazonas (Cmt da 3a CIPM - Rio Preto da Eva)
rtcastroalves@bol.com.br
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