ATALAIA DO NORTE - Em junho de 2013, durante a
realização da Copa das Confederações, o Brasil registrou um dos momentos mais
importantes dos úlitmos anos. Com o slogan “o gigante acordou”, a população de
todas as classes sociais foi para as ruas protestar contra a corrupção que se
enraizara no país, gerando sensação de impunidade de todas as ordens. Concomitantemente,
a falta de políticas públicas fez a população exigir das autoridades seriedade
no trato com a coisa pública. O caos que se instalara na saúde (hospitais em
ruínas, pacientes sem atendimentos, sem leitos e morrendo nos corredores); nas escolas
(estruturas abandonadas, qualidade de ensino ultrapassada, alunos estudando sentados
no chão e professores mal pagos e sem preparação); transporte público caro e
sem condições para uso de passageiros e gastos públicos exorbitantes nas obras
da Copa, assombraram a população. As pessoas não acreditavam que era possível
gastar tanto em eventos esportivos e na Copa do Mundo, enquanto a saúde,
principalmente, passava por um casos generalizado.
Em tão pouco tempo o governo
brasileiro liberou quase R$ 40 bilhões para a construção de estádios e obras
correlacionadas à copa do mundo. Obras que literalmente transmitiam a ideia de que a corrupção
mais uma vez imperaria e a incompetência predominaria. Era certo que os
tudo ficaria pronto, contudo, todos
tinham a certeza de que a corrupção e o superfaturamento se concretizariam até o final. O valor total do custo dos estádios, por exemplo, é 285%
superior à previsão inicial (R$ 2,8 bilhões) anunciado pelo governo federal em
outubro de 2007 (chegou a R$ 8 bilhões). O estádio Mané Garrincha estava orçado
inicialmente em R$ 699 milhões e já consumiu até agora quase R$ 2 bilhões.
Atrelada a essas ações que
contrariam a vontade e a necessidade da população, o governo brasileiro em mais
uma desastrada ação que em nada beneficiará o país, aprovou total isenção de
impostos à FIFA, ou seja, essa empresa poderá vender seus produtos, prestar
serviços em benefício próprio e ainda assim não pagará nada para o país. Seus
lucros estão estimados em R$ 8 bilhões, valor que supera as copas anteriores
como na África do Sul 2010 – 7 bilhões e na Alemanha 2006 – 4,4 bilhões (Guia
Muriaé, R7 e UOL). O Brasil deixa de arrecadar com isso R$ 1 bilhão. A FIFA ao
contrário do que vai acontecer no Brasil, pagou os impostos devidos nas copas
anteriores.
Desde 1950, o país nunca
sonhou tanto com uma copa do mundo. As crianças, os jovens, os adultos, os idosos,
enfim, todos queriam sentir o sabor e o valor de poder presenciar a seleção
brasileira conquistar mais um título, o que reafirmaria a hegemonia no futebol
mundial. Mas, insanamente a corrupção corroeu essa vontade, esse desejo, e tudo
se transformou em um despertar, em um acordar e soerguer a cabeça e perceber
que a forma com que esse sonho se instalara não condiz com a realidade vivida
diariamente pelo cidadão brasileiro, que incondicionalmente necessita dos
serviços públicos básicos.
Afinal, quem destruiu esse
sonho? Os vândalos que tentam a todo custo protestar destruindo bens públicos e
privados, como forma de demonstrar a insatisfação com a postura do governo
brasileiro ou o próprio governo brasileiro que inverteu valores, elevando a
importância dos eventos esportivos em detrimento de políticas públicas voltadas
à saúde, à educação, ao transporte, à geração de emprego, etc.? Decerto,
contudo, piorar a situação atual não é a melhor proposta que temos para construir
um novo país. Isso demonstra o quanto não fomos preparados, educados, tampouco
orientados para agirmos com prudência e inteligência. Não fomos devidamente transformados
em cidadãos, cuja consciência do poder que possuimos para escolher os gestores,
administradores da res pública, está aquém do ideal. Ficar inerte, calado,
silente, não resolve. Reclamar de tudo, ou destruir, ou vandalizar, também não
resolve. Sejamos inteligentes e busquemos o diálogo, façamo-nos entender e
compreender; sejamos os responsáveis pela mudança e não os irresponsáveis pelo
caos.
Elaborado por Rubem Tadeu - Presidente da AFAMA
rtcastroalves@bol.com.br
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