BRASÍLIA - O Papa Bento XVI anunciou nesta segunda-feira, 11, a renúncia ao pontificado, segundo o Vaticano. Ele deixará o posto às 20h - 16 de Brasília - em 28 de fevereiro deste ano.
Em comunicado feito em latim durante uma assembleia de cardeais na qual se discutia um processo de canonização, Bento XVI disse que deixará o carbo devido à idade avançada, por "não ter mais forças"para exercer a função. Para o decano no Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano, a notícia foi um "raio no céu azul". Suas palavras foram recebidas com profundo silêncio pelo consistório. "Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino", disse o papa em um surpreendente anúncio durante o consistório para marcar as datas de canonização de três causas.
O pontífice, que completará 86 anos em abril, afirmou que "no mundo de hoje (...), é necessário o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que ei de conhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado". "Por esta razão, e consciente da seriedade deste ato, em completa liberdade, eu declaro que renuncio ao ministério de Bisco de Roma, Sucessor de São Pedro", acrescentou o papa.
Esta é apenas a segunda vez que um papa da Igreja Católica renuncia ao pontificado. Antes, no ano de 1294, Celestino V abdicou antes de ser consagrado. Ele, que havia vivido como um ermitão não se sentia preparado para assumir o comando da igreja. O cargo agora ficará vago até a eleição do próximo papa, "um período de 'sede vacante'", afirmou o Padre Frederico Lombardi, porta-voz do Vaticano. "A notícia nos pegou de surpresa", disse o padre. Aos 78 anos, ele foi um dos cardeais mais idosos a ser eleito papa. Após o anúncio, no entanto, o porta-voz disse que nenhuma doença levou Bento XVI a nunciar sua renúncia. Lombardi afirmou que o próprio pontífice, na carta na qual anunciou sua decisão, explicou que nos últimos meses sentiu diminuírem suas forças físicas. Quando começar a Sé Vacante, tempo que transcorre desde que um papa falece, ou renuncia, até a escolha de seu sucessor, Bento XVI irá à residência de Castelgandolfo, a 30 km ao sul de Roma, e, assim que houver um novo pontífice, retirar-se-á a um mosteiro dentro do Vaticano, disse Lombardi.
Durante o tempo de Sé Vacante, serão realizadas obras de acondicionamento do apartamento papal. Assim que o conclave eleger um novo pontífice, Bento XVI deve se mudar para um mosteiro dentro do Vaticano.
"A idade oprime", em um livro de entrevistas publicado em 2010, o papa já havia falado da possibilidade de renunciar caso não tivesse condições de continuar suas atividades.
Segundo o irmão do Papa Bento XVI, o religioso Georg Ratzinger, 89, o médico do sumo pontífice aconselhou ao papa que não fizesse mais viagens transatlânticas. O irmão afirmou também que o Papa Bento XVI tem cada vez mais dificuldades para andar, o que complica sua vida pública, e ressaltou que seu irmão quer mais tranquilidade esta idade.
Antes de anunciar a renúncia ao cargo, Bento XVI tinha visita programada para o Brasil em junho, quanto participaria da jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. O evento está marcado para acontecer entre os dias 23 e 28.
BIOGRAFIA
O cardeal alemão Joseph Ratzinger foi eleito papa em 19 de abril de 2005, em substituição a João Paulo II, que havia falecido em 2 de abril do mesmo ano. Bento XVI é o 265o papa e foi o primeiro a ser eleito no século 21. Ele assumiu o posto em meio a um dos maiores escândalos enfrentados pela Igreja Católica em décadas - o escândalo de abuso sexual de crianças por clérigos. Líder da Congregação para a Doutrina da Fé, Bento XVI contou com o apoio das alasa mais conservadoras da igreja à época de sua escolha como sumo pontífice.
Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927 em Marktl, Alemanha, e entrou para o seminário aos 12 anos. Na adolescência, estudou grego e latim, e mais tarde se doutorou em teologia pela Universidade de Munique. É conhecido como grande estudioso e possui sólida carreira acadêmica. Na igreja, ocupou o posto de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, responsável por difundir e defender a doutrina católica.
Com a morte de João Paulo II, Ratzinger foi eleito pelos cardeias em abril de 2005 e adotou o nome de Bento XVI. Durante a Segunda Guerra Mundial, chegou a ser convocado para combater nos esquadrões antiaéreos alemães. Dispensado, acabou sendo recrutado primeiro pela legião austríaca e depois pela infantaria alemã, da qual desertou em menos de dois meses. De volta ao seminário, foi ordenado padre em junho de 1951. À função, somou o trabalho como professor de teologia, primeiro da Universidade de Bonn e depois na de Regensburg, onde seria reitor. Em março de 1977, tornou-se arcebispo de Munique e FReising e, menos de três meses depois, foi criado cardeal pelo Papa Paulo VI. Já sob João Paulo II, em 1981, Ratzinger tornou-se o líder da Congregação para a Doutrina da Fé. Neste cargo, Ratzinger reprimiu com força os teólogos que saíram de sua doutrina rígida e alienou outras denominações cristãs dizendo que não são igrejas verdadeiras. Chamado de Guardão do Dogma, ele combateu os sacerdócio feminino e condenou a homosexualidade, além de ser contra a comunhão aos divorciados que voltarem a se casar e a impedir o crescimento do laicismo dentro da igreja, mas não se considera um "durão".
Fonte: www.bol.com.br
Por Rubem Tadeu - Presidente da AFAMA
rtcastroalves@bol.com.br
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